“Quando era moço vivia na travessa do Bairro da Apariça onde havia, que me lembre, quatro columbófilos: o Ernesto Fialho, o Pardal Soares, que era sócio do José Marujo, o José Manuel Rita e o ‘tio Chico Russo’. No largo desse bairro, aos domingos, aquilo era uma festa.
Os columbófilos, familiares e amigos faziam um grande grupo onde
o entusiasmo era contagiante e atingia o auge quando
os pombos chegavam das provas. E foi todo esse ambiente
de festa e de competição que me atraiu para a columbofilia”.
Uma recordação partilhada pelo columbófilo bejense António Simão, 64 anos, que na última campanha conquistou três títulos distritais, com uma colónia que classifica de “uma equipa de voo bastante jovem, mas de nível competitivo bastante elevado”.
Simão contou que, há 50 anos, foi desafiado pelo António Rosa, “columbófilo que tinha um pombal na rua Infante D. Henrique, a concorrer com ele. Depois, no início da década de setenta, comecei a concorrer na Secção Columbófila do Clube Desportivo de Beja mas, no ano seguinte, quando já começava a ter boas classificações, tive que acabar com os pombos porque os meus pais decidiram mudar-se para uma casa que não tinha condições para manter um pombal”.
Hoje reconhece o apoio de columbófilos que ainda são referência na modalidade: “O Luís do Rosário, pelos pombos e pelo apoio que me ofereceu, esteve na base do meu início, mas, por amor à verdade, quem foi verdadeiramente decisivo para que me iniciasse na columbofilia foi o José Marujo, pois quando foi para o Ultramar cedeu-me o pombal, o constatador e ainda alguns pombos”.
Simão está entre os 15 columbófilos que em dezembro de 1982 fundou a Asas de Beja e já liderou a associação distrital da modalidade, a par de outros cargos federativos. Uma disponibilidade ímpar para o associativismo que justifica: “Nunca gostei de ficar de fora, de braços cruzados a ver os outros a trabalhar. Sempre estive disponível para participar nas iniciativas que achava positivas para a columbofilia. Foi assim na fundação do Asas de Beja, bem como na associação distrital e, ainda, quando foi criado o ‘Jornal Columbófilo Alentejano’ onde, a convite do João Mimoso e do saudoso António Abreu, exerci o cargo de diretor da publicação”.
O seu percurso como dirigente da modalidade ficará associado à construção do pombal na Cercibeja e à edificação da aldeia columbófila na cidade de Beja: “A construção do pombal na Cercibeja foi uma iniciativa que se veio a replicar por todo o País, com a construção de pombais em escolas secundárias e em alguns lares da 3.ª idade, onde foi introduzida a columboterapia”. E sublinha: “A aldeia columbófila de Beja foi um projeto que a minha direção abraçou e que visava criar uma alternativa às pessoas que não tinham condições habitacionais para construir o seu pombal e que estavam a ser objeto de, infundadas, reclamações de alguns munícipes”.
Um momento alto da sua presidência na associação terá sido a realização da 34.ª Exposição Nacional e Pré-Olímpica na cidade de Beja em 2007, no entanto, Simão tem outra opinião: “O momento mais alto para a columbofilia distrital, ao nível de eventos relevantes, foi a realização, em 1994, em Beja, da XXII Exposição Nacional de Columbofilia”. Mas recorda que “este evento regressou a Beja em 2007, ao Parque de Feiras e Exposições, e voltou a atingir um nível muito bom, mas, opinião minha, não atingiu o nível da Exposição de 1994, até porque a columbofilia estava a sofrer as consequências da gripe aviária e isso teve repercussões notórias na 34.ª Exposição Nacional”.
Com várias distinções pelo mérito da sua atividade, o columbófilo bejense sublinha, contudo, que “toda a minha atividade, enquanto dirigente, foi norteada sempre pelos interesses coletivos e da modalidade. A minha preocupação foi sempre fazer o melhor pela minha coletividade e pela associação. Sei que nem sempre decidi bem, em algumas ocasiões errei. Mas quem comigo trabalhou sabe que a minha intenção foi sempre fazer o melhor, procurando, sem desfalecimentos, expandir e promover a columbofilia do nosso distrito”.
Com a consciência de que “um homem sozinho pode muito pouco, mas que esse mesmo homem, integrado numa boa equipa, pode alguma coisa”, Simão desvaloriza os prémios individuais: “Verdadeiramente, eles estarão sempre associados a muitas pessoas e de individual têm muito pouco”. Seguramente que pouco lhe faltará dar à modalidade, até porque já escreveu e publicou “alguns ‘Contos Columbófilos’, uma iniciativa puramente pessoal que, pelas múltiplas reações a essas publicações, sinto que também poderão ser importantes para a modalidade”.
Agora, diz Simão, “o tempo é para estas novas gerações. É deles o futuro da modalidade”. Na hora de avaliar os sentimentos, mais ou menos cúmplices que o columbófilo tem pelos seus alados, Simão foi realista: “A competição feroz não se compadece com cumplicidades assentes, apenas, em relações criadas dentro do pombal, mas, sim, assentes nos resultados obtidos. O columbófilo não é só o ‘treinador’ dos pombos. Ele é um pouco de veterinário, um pouco de ‘pai e mãe’, um pouco de ‘companheiro’, um pouco de ‘padrinho’ e um pouco de ‘justiceiro’”, concluiu o campeão bejense.