O começo da columbofilia em clubes e associações remonta a 1900 em Portugal. Na região algarvia em 1932 com o aparecimento da então Sociedade Columbófila do Algarve. Hoje a estrutura columbófila está organizada como qualquer outro desporto. Tem uma Federação nacional (Federação Portuguesa de Columbofilia) que rege as associações distritais, e cada associação distrital tem os seus clubes. No Algarve são organizadas por época, entre Janeiro e Junho, 21 provas e quatro treinos, o que não difere muito dos outros distritos. As provas acontecem semanalmente. A última foi a de Sória, em Espanha, no passado fim-de-semana, com 700 kms, organizada pela Associação Columbófila do Distrito de Faro com uma congénere espanhola. Concorreram 13 mil pombos, com um prémio de 650 euros para o 1º, 450 para o 2º e 250 para o 3º. Não são os prémios monetários das provas que levam os columbófilos a competir, mas o valor que atinge um pombo campeão pode ser sinónimo de enriquecimento, se ganhar numa prova rainha, como a de Barcelona, com 1000 kms. É uma das duas clássicas (também Mérida) organizadas pela federação nacional. “É a prova das provas”, assegura Rui Emídio, presidente da Associação Columbófila do Distrito de Faro. “O dono de um pombo que ganha Barcelona está multimilionário. Não precisa trabalhar mais”, diz o responsável. Foi exactamente por 100 mil euros que, por exemplo, foi vendido para o Japão um vencedor de Barcelona já há nove anos. O pombo chamava-se “Espírito Invencível”. Era belga (país donde são nativas as principais raças de pombos-correio). “Essas pessoas enriquecem porque, como nesse caso do “Espírito Invencível”, antes de vender, o dono pô-lo a procriar e tirou 50 filhos, a valer entre os 5 mil e os 20 mil euros cada”, reforça. Mas pombos vencedores e vendidos a preços elevados é algo que remonta há muitos anos e não só em clássicas. José Carlos Rosa, da Sociedade Steven Catia e José Carlos, lembra-se de já em 1985, nas Olimpíadas Columbófilas do Porto, o pombo vencedor ter sido “vendido para o Japão por 1300 contos” (6500 euros). Porém um pombo de topo custa hoje, em média, “10 mil euros, e um filho pode custar 5 mil euros”, embora também possa ser comprado um pombo-correio por 150 euros, pois a maioria dos columbófilos praticam exclusivamente por paixão. Existem entre 15 e 20 raças de qualidade, mas a raça do pombo está ligada ao criador. Um dos pombos mais famosos que existem é o Janssen. Janssen é o apelido de três irmãos belgas que nos anos 20 e 30 do século passado, ganharam uma série de provas e começaram a vender pombos. Hoje já só está vivo um deles, com 90 anos. “Lá na Bélgica, o reino é dele”, diz Rui Emídio, que o conheceu pessoalmente. Foi ao seu pombal na Bélgica e quis comprar “um borrachinho que ele lá tinha, mas que já estava vendido” mais uma vez, “para o Japão” e “por 25 mil euros” (o Japão e a Coreia são países com milhares de columbófilos que compram pombos europeus por quantias exorbitantes, tal como exorbitantes são as apostas que fazem). Mas para além dos Janssen, os Verreck e os Fabrys são outras raças muito populares e caras, todas belgas. “E não há pombal no mundo que não tenha um Janssen”, salienta Rui Emídio.
“Os pombos correio são atletas de alta competição”
Com ou sem pombos de topo, todos os columbófilos têm semelhantes tarefas, que passam por dois treinos diários – normalmente ao início da manhã e final da tarde; alimentação das aves, tratamento e limpeza de pombais, estratégias de competição. Fazem provas de velocidade (até 300 kms) podendo um columbófilo participar no máximo com 30 pombos; meio fundo (até 500 kms) com 25 pombos, e fundo (até 1000 kms) com 15. “Os pombos correio são atletas de alta competição. Caso contrario não faziam 700 kms em sete horas. Tal como outro atleta de alta competição o pombo tem de treinar todos os dias. Apesar de praticamente não haver columbófilos profissionais - pelo menos no Algarve não há - um columbófilo acorda cedo para soltar os pombos das 7:00 às 8:00 horas, vai trabalhar e volta a soltá-los por volta das sete da tarde para o segundo treino”, explica o presidente da associação, que tem cerca de 200 pombos.
Estratégias de competição
Há duas estratégias de competição: os chamados: método natural e viuvez. O natural é o método mais antigo, onde machos e fêmeas partilham o mesmo pombal, sendo que quando um vai para a prova, o pombo deseja voltar depressa para ver o cônjuge, os ovos em encubação, ou os filhos. A viuvez, de uma maneira geral aproveita mais os machos e consiste em fazer vida isolada das fêmeas, sendo que dois dias antes das provas são juntos, para que os machos comecem a ficar excitados. Depois vão para a prova e tudo o que querem é voltar. A viuvez é o método mais usado por quem quer mesmo ganhar. Quem pratica a columbofilia mais pelo desporto, é que ainda utiliza o método natural, porque este desgasta mais os pássaros, na medida em que criam os filhos com as actividades e responsabilidades inerentes ao facto em qualquer animal. “Quando os pombos estão separados das fêmeas estão mais soltos, com mais saúde. Hoje em dia 95% dos columbófilos já joga com a viuvez”, diz Rui Emídio. No entanto, em qualquer dos casos, chegar a casa é tudo o que querem. Como o fazem e porque o fazem, são questões sem respostas seguras.
A tenacidade
Se os pombos sabem que estão em competição ou não, é algo que divide opiniões. Rui Emídio diz que às vezes acha “que sim”. Jorge Martins, da Sociedade Columbófila de Faro, columbófilo há mais de 50 anos, acha que “não”, que o que “querem mesmo é chegar ao pombal”. O certo é que o pombo volta sempre ao pombal, se não for alvo de um forte ataque ou acidente. “Já tenho recebido pombos quase 15 dias depois da prova”, confirma o sócio número 6 da sociedade columbófila farense.Isto acontece porque “desde as aves de rapina aos gatos e até pessoas, os pombos correm muitos riscos”. Mas a tenacidade – característica destas aves que apaixonam tanta gente – leva-as a serem capazes de coisas tão extraordinárias como voar sem rabo. Assim recebeu Jorge Martins um dos seus pombos vindos de Vilar Formoso. “Nem um pena do rabo trazia, mas chegou”. Quando um pombo nunca chega, quase sempre a razão está num ataque mortífero. Se assim não for, param, descansam, mas acabam por chegar. “Há pombos que só voam de dia: à noite pousam, descansam e continuam no dia seguinte. Outros pombos voam de dia e de noite”, comenta Jorge Martins, o que é prova de mais uma característica ainda sem explicação.
O sentido de orientação
O sentido de orientação destas aves é algo que também continua no segredo dos deuses. Um jornal online brasileiro noticiava em 11 de Maio de 2005 que cientistas norte-americanos acreditavam ter descoberto que os pombos se orientam “pela visão e pelo olfacto”. Mas segundo a maior parte dos columbófilos, já foram testados voos com os olhos vendados e os pombos regressam. José Carlos Rosa afirma que “já foi feita a experiência de cortar o nervo olfactivo ao pombo e o pombo volta na mesma”. “Há várias teorias: grandes estudos, feitos por americanos, ingleses, etc. Mas o que consta, desde há muitos anos, é que se deve às ondas magnéticas da terra”, esclarece Rui Emídio, admitindo o seu cepticismo quanto à teoria do olfacto. Outras teorias apontam a conjugação de vários factores: campo magnético, olfacto, posição do sol, e memória espacial. Teorias à parte, a verdade é que a verdade ainda está por desvendar.
Mediatizar a columbofilia
Não deixa de ser curioso que sendo a columbofilia o desporto com mais praticantes em Portugal depois do futebol, não tenha a mediatização reflectida nesses números. O presidente da associação diz não perceber bem o porquê, porque considera ser “um espectáculo qualquer solta ou chegada de pombos”, mas acredita que “ainda não foi feito o possível nesse sentido”. “Era bom as escolas levarem os miúdos a ver uma chegada de pombos, nas Aldeias Columbófilas, por exemplo. Serão caminhos a preparar”, reflecte. E no Algarve existem 10 Aldeias Columbófilas (mais quatro em projecto) espalhadas por toda a região. Porém alguns passos começam a ser dados: na próxima Fatacil a associação vai ter pela primeira vez um stand expositor. E ainda no intuito de tornar mais visível a columbofilia, a associação apostou este ano, de forma pioneira a nível nacional, num gabinete de imprensa, que tem em José Carlos Rosa o responsável.
Os custos
Por outro lado, a columbofilia, nem por isso é cara como outras actividades o são, o que também pode fazer crescer o número de praticantes. “Gasto menos dinheiro do que se fumasse dois maços de tabaco por dia”, ironiza Rui Emídio. Em números concretos, contando com rações, vitaminas, análises, medicamentos e outras despesas adicionais, resulta “em pouco mais de 100 euros por mês”. As recompensas financeiras com prémios não cobrem os gastos. “É difícil. Uma pessoa que tenha bons pombos, que ganhe provas, talvez não gaste dinheiro. No entanto, esses, representam uns 5% dos columbófilos”, sublinha, não esquecendo, como foi atrás referido, que uma vitória numa clássica pode ditar um outro destino, sendo certo que para isso é preciso não só investir nos pombos certos, como treinar tão afincadamente quanto possível, e como em tudo na vida, ter alguma sorte à mistura.
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