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COLUMBÓFILIA

PÁGINA DE JOSÉ CARLOS ALMEIDA ROSA, DEDICADA À COLUMBÓFILIA !!! PROMOÇÃO E DIVULGAÇÃO DO DESPORTO COLUMBÓFILO !!!

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FPC :: Notícias e Eventos (entrevista com Almerindo Mota)

Almerindo Mota: “Pretendemos que a solta seja um êxito e estamos a fazer tudo para que nada fique dependente do acaso”

Entrevista com o coordenador desportivo da FPC, Almerindo Mota.

Almerindo Mota Coordenador Desportivo - Cópia

Esta é a 2ª vez, depois da primeira ter acontecido em 2015, que as duas provas nacionais de Fundo têm solta a partir de Valência del Cid. Que condições/caraterísticas levaram à opção por este local novamente?

Almerindo Mota (AM) – Essencialmente a localização geográfica. Em termos de distância Valência del Cid acaba por ser a mais consensual, porque se fôssemos mais para sul daria menos quilómetros para a parte sul e muito mais para a parte o norte, o inverso acontecia se tivéssemos optado por um local mais a norte. Valência del Cid, como é um local central em Espanha, acaba por dar quilómetros de forma semelhante para muitos pombais, contudo há sempre pombos-correio que têm de fazer mais quilómetros que outros, por exemplo Portalegre, Évora e Viseu são as que estão mais perto. Nunca será um número exato para todos.

Quantos columbófilos vão participar na solta de dia 21?

AM– Ainda não temos uma precisão exata do número de columbófilos que vão participar, mas estamos convencidos que estarão entre 8000 a 8500 columbófilos representados na solta.

Estão inscritos mais de 51 mil pombos-correio. O número está dentro das expetativas?

AM – É um número que está dentro das nossas previsões. Penso que continua a ser uma marca muito bonita e que, a nível europeu, e se calhar até mundial, em provas de fundo, será um caso único. Julgo que ninguém ainda realizou este tipo de solta, com esta envergadura.

Que especificidades tem esta solta?

AM – Uma única solta tem a particularidade de colocar Portugal inteiro “a falar a mesma língua”, ou seja, de Faro a Viana do Castelo vai haver um local e uma hora de solta igual para toda a gente. Este tipo de prova, de âmbito nacional, desperta sempre um enorme interesse para saber qual é o primeiro pombo a chegar, o primeiro pombo da zona, o do distrito. Isto tem várias etapas e acaba por ser um dia especial.

Vai ser o coordenador de solta em Valência del Cid. Que importância tem numa prova o coordenador?

AM- Nesta prova em particular, o coordenador de solta é “a peça” menos importante. O que se destaca é a qualidade dos pombos-correio e dos columbófilos que estão em competição. O coordenador, para além dos aspetos logísticos associados à prova, está essencialmente focado na obtenção da informação que lhe permita avaliar, com o maior rigor possível, as condições para a realização da prova. Neste aspeto também é fundamental o trabalho desempenhado pelo meteorologista, na previsão e avaliação das condições meteorológicas que se irão fazer sentir no local, no percurso e na chegada dos pombos-correio. Quando tem essas informações, o coordenador federativo, em sintonia com os diversos delegados e coordenadores distritais, estabelece a melhor hora para se efetuar a solta.

Há também os delegados de Solta. Que papel têm na prova?

AM- Os delegados de solta que nós temos em Portugal, a maior parte deles, são pessoas com muita experiência e são indivíduos que ao longo dos anos já fizeram muitas provas. O trabalho deles reparte-se por diferentes fases. A primeira é a recolha dos pombos junto das Coletividades. A partir daí compete-lhes assegurar todas as condições para que o transporte até ao local da solta se efetue na máxima segurança e nas melhores condições para os “atletas”. Finalmente, cumpre-lhes também assegurar que os pombos – correio sejam convenientemente alimentados e abeberados e que disponham de um alargado período de descanso para que, no momento da solta, estejam nas melhores condições físicas, para conseguirem superar as exigências naturais da prova. No ano passado foi algo que me surpreendeu, a dedicação de cada um, sem exceção, a tratar com o máximo cuidado dos pombos. Outra tarefa, como já referi, é o facto de estarem presentes na decisão da hora de solta.

Ao nível das condições sanitárias da prova. Quais são os requisitos necessários e, também, no transporte dos pombos-correio, que orientações têm de ser seguidas?

AM- Eu acho que nas duas áreas estamos muito à frente dos restantes países. Portugal e os columbófilos portugueses deviam orgulhar – se da frota que têm. É lógico que há uma Associação ou outra com mais meios, mas, no geral, todas têm boas condições para o transporte. Neste momento as galeras, que estão devidamente adaptadas para esta função, reúnem as condições de temperatura e ventilação adequadas. Estão equipadas com com sistemas de abeberamento automático e devidamente preparadas para que a alimentação decorra com a máxima normalidade. Gostaria também de sublinhar que a Federação estabelece lotações máximas por caixa, sempre de acordo com os princípios do bem estar animal. Em termos organizativos e de transporte, nós estamos muito melhores que o resto dos países. Neste dois aspetos os nossos columbófilos podem estar descansados, porque as aves estão bem entregues. Do ponto de vista sanitário relembro aspetos tão importantes como a vacinação, que no nosso caso é obrigatória. De referir que o transporte animal transfronteiriço obriga a que sejam emitidos, pelas autoridades veterinárias nacionais, certificados sanitários – modelo europeu – que atestam que aquelas aves se encontram de boa saúde e em condições para a realização da prova.

Quais são os principais problemas que as aves podem encontrar durante o trajeto?

AM– A columbofilia é a céu aberto, por isso está sujeita a várias situações que podem surgir. Numa prova de 700 quilómetros há diversos fatores que interferem diretamente no voo, desde logo, as condições meteorológicas que objetivamente vão encontrar e que, numa distância como esta, podem variar ao longo do percurso. Depois há mais algumas condicionantes como é o caso da orografia, os ataques de aves de rapina e os acidentes naturais com obstáculos não sinalizados, por exemplo cabos de alta tensão. Apesar disto estou confiante de que iremos ter uma prova sem problemas de maior.

Quais são as suas expectativas para a solta do próximo sábado?

AM- Pretendemos que a prova seja um êxito e estamos a fazer tudo para que nada fique dependente do acaso. Em estreita colaboração com a nossa estrutura associativa, tudo está preparado para que as fases de encestamento e transporte sejam efetuadas com a maior eficiência e nas melhores condições. No local de solta também foi tudo devidamente planeado. Em conjunto com a nossa congénere espanhola e, em especial, com a Federação Valenciana, deixámos tudo preparado, desde a receção e estadia dos nossos pombos, até ao momento da solta. Por aquilo que sei e pelo que me tenho informado tem tudo para correr bem. Tanto quanto é possível antever, a esta distância da solta, julgo que estão reunidas as condições para que a prova decorra dentro da normalidade. Naturalmente que uma competição de fundo, com a distância do Valência del Cid, será sempre um teste durinho, mas a minha expectativa é que será uma grande jornada que irá prender as atenções do país columbófilo.

Ao nível dos prémios, como funciona?

AM- A Direção da Federação deliberou que a atribuição dos prémios se vai processar seguindo os três âmbitos classificativos previstos na prova, isto é, por Associação, zona e nacional. Tendo em linha de conta que é impossível acabar com as assimetrias, os prémios privilegiam as classificações obtidas por Associação e nas zonas em detrimento da classificação nacional. Assim haverá prémios monetários a nível de zona e do distrito. A nível nacional entregamos apenas troféus. Os resultados de zona e de âmbito distrital aproximam-se mais da verdade desportiva, porque as diferenças entre columbófilos são bastante mais reduzidas, no entanto, ainda assim, se olharmos para a configuração geográfica de alguns distritos, podemos ver que há pombos-correio que fazem mais quilómetros. A igualdade absoluta é algo que não é alcançável.

Tendo em conta a obrigatoriedade da comunicação do primeiro pombo chegado, que meios é que a FPC colocou à disposição dos columbófilos para serem transmitidas essas informações?

AM- Para que isto seja possível, tendo em conta a expetativa do número de comunicações, a FPC vai montar um “call center” na sua sede, com o intuito de facilitar a comunicação do 1º pombo chegado. Esse contacto tem de ser efetuado nos 30 minutos seguintes à chegada do pombo-correio. Neste call center estão envolvidas perto de 20 pessoas. O site da FPC irá também disponibilizar um formulário para que os concorrentes possam registar o 1º pombo de forma autónoma.

Qual é o objetivo de toda essa estrutura?

AM – A principal premissa passa por permitir estabelecer em tempo real as classificações provisórias, quer do ponto de vista do distrito, da zona e a nível nacional. Cada pessoa pode, em sua casa, através do site da FPC, acompanhar a chegada dos pombos-correio. Quanto mais rápidas foram as comunicações, mais rapidamente é estabelecida uma classificação provisória nos três âmbitos definidos no Regulamento da Prova. Um segundo objetivo passa pela deteção de qualquer anormalidade na hora de chegada de cada uma das aves e no imediato desencadeamento de ações de controlo.

Quais são, no seu entender, os principais problemas que afetam a modalidade em Portugal?  

AM – Hoje, a conjuntura da sociedade, leva a que os jovens não apareçam na columbofilia. Estão mais sedentários e virados para o “mundo” da Internet, algo que não havia há uns anos atrás. Outra característica é o facto de a columbofilia estar muito ligada ao meio rural, antigamente fazia-se um pombal com “4 tábuas”, hoje já não é nada assim, os pombais já têm de ter outras condições, estando sujeitos a legislação que obriga ao seu licenciamento federativo e camarário, o que, naturalmente, obriga a um maior investimento. Antes um columbófilo com um reduzido número de pombos disputava a época desportiva. Atualmente os columbófilos, pouco tempo após se iniciarem na columbofilia, já anseiam ser campeões. Antes pensava-se menos na vertente competitiva e mais na vertente do convívio. A acentuação da vertente desportiva e a ambição de atingir rapidamente patamares elevados, em termos competitivos, obrigam a que as colónias sejam constituídas por um maior número de pombos, levando a que as condições em torno da prática columbofilia se traduzam nalgum esforço financeiro e numa maior disponibilidade de tempo. As atuais exigências a nível profissional, em conjunto com a crise financeira e social, também não ajudam em nada a modalidade. Por exemplo, uma pessoa desempregada dificilmente vai ter pombos, é complicado.

Que opinião tem sobre o papel social da columbofilia?

AM- Em termos sociais, a columbofilia é muito importante. Nós hoje vemos cavalos e cães a serem utilizados com fins terapêuticos. A columbofilia faz o mesmo. Eu, quando estou chateado, ou sujeito a maiores momentos de stress, vou ao pombal, pego nos pombos e alivio toda a tensão que acumulei durante o dia. A columbofilia é verdadeiramente o “meu escape”… Se os jovens pudessem vir para a modalidade, iam ver que há coisas mais importante que a televisão, o computador ou o telemóvel. As pessoas, cada vez mais, se fecham e vivem isolados dos vizinhos, dos amigos e da comunidade em que estão inseridos. A prática desportiva e o associativismo são instrumentos fundamentais para quebrar esta solidão. Por outro lado, a prática columbófila reconduz-nos a um contacto com a natureza, algo que, cada vez mais, é reconhecido com algo positivo.

Que mensagem gostava de deixar aos columbófilos relativamente a esta primeira prova em Valência del Cid?

AM- Deixo uma mensagem de esperança. Vamos acreditar que vai tudo correr bem e vamos ter fé nisso. Essencialmente queria aproveitar para colocar um desafio a todos os columbófilos e a todos os dirigentes das Coletividades que é: fazerem a celebração das duas provas, a primeira já no sábado (21), aproveitando a sua presença nas Coletividades para conviverem e transformarem este dia numa grande festa. A parte competitiva é importante, mas espero que saibamos todos contribuir para que estes sejam momentos especiais, de confraternização e convívio. Mobilizar os columbófilos para esta ideia é o grande repto que aqui deixo.